Li esse texto no Jornal Dance Ano XVII - Nº 192 -maio-2012
do grandioso Milton Sandanha e concordo com tudo!!
Não posso deixar de compartilha-lo!!!
"Certa vez escrevi aqui no DANCE que o baile mais bonito não é o de tango, minha primeira paixão. É o samba. Isso não é uma lei, nem comporta polêmicas. É apenas minha opinião. Qualquer um tem todo o direito de discordar, e jamais entraremos em acordo. Já vi bailes memoráveis de samba, que mereciam ser filmados. Com feras na pista da melhor qualidade.
Mas vou ser franco: quero esse baile de volta! O que tenho visto ultimamente está longe de causar encanto e emoção. O que mais tenho observado é gente pulando freneticamente, sem sentido e sem eixo; uma correria absurda, com pernadas idem; corpos tortos e totalmente sem ritmo, desvinculados da música que está tocando. Pessoas que parecem estar lutando, e não dançando...Ou apostando corrida na pista. Enfim, um baile feio.
"Ah, mas são os novos estilos", argumentará alguém. Tudo bem, pode até ser, mas não agrada ao meu gosto estético. Nem ao que entendo como dança de salão, onde harmonia, respiração, integração com a música e com parceira e, sobretudo emoção, são ingredientes indispensáveis.
Respeito todas as vertentes mais recentes do samba, inclusive o baile experimental, Nada contra. Admiro Jimmy de Oliveira, um dos poucos que realmente vem criando linguagens novas nos últimos anos, com extrema capacidade e ousadia. Mas respeitar é uma coisa, gostar é outra. E aqui estou falando da beleza do baile, e principalmente do prazer que deve ensejar, pois essa é sua função.
Palco e arte são outro departamento, tema que comporta outro olhar, completamente diferente do baile. Não quero no palco o samba da pista de baile. Lá espero acima de tudo inovação, criatividade, ser surpreendido como espectador. Já no baile não quero o show pelo show, e sim emoção e prazer, não importa se com inovações ou rigorasamente no tradicional. Mas dançar num baile consiste em integrar-se numa estrutura, que tem inclusive códigos. A dança tem que estar dentro de um senso comum. É o social. Quando alguém entra no baile e quebra essa estrutura, a peraltice, ou impericia, afeta a harmonia que faz bem a todos. Parece bobagem, mas não é: um cara dançando muito mal atrapalha, pois no mínimo quebra a concetração geral. Para não falar da cicurlação, que será afetada. Tudo que fizer de ruim terá reflexos. E aqui, por favor, não estou me referindo a iniciantes, sempre bem-vindos. O foco está justamente em quem se acha o tal e supõe que pode fazer da pista a casa da sogra.
O samba que me encanta é aquele, por exemplo, do Márcio Sorriso. Liso, na pista, pé que desenha no chão, elegante. É agil sem ser afobado. Esse é um mestre! Nunca vou esquecer também da alta qualidade de um show de samba do Clube Latino, lá no Carioca Club, depois elogiado neste jornal. Outro que arrasa e não se perde no exagero é o Duda Lima. Poderia citar vários outros, como Marcelo Cunha e Karina Sabah. Que ninguém tome por injustiça, por favor, é impossível nomear todos os bons. Estou dando apenas alguns exemplos de alta qualidade, tentando estabelecer padrões, para que entendam meu pensamento.
Assim como o chamado tango novo já desapareceu de Buenos Aires (alguns no Brasil ainda não sabem disso), torço pelo dia em que o nosso samba retome suas raízes mais autênticas e mais belas. Que ninguém se ofenda: é só questão de gosto pessoal. Adoro um baile bonito, que roda, e onde cavalheiros saibam abraçar, sejam elegantes e gentis com elas. Um baile onde não pensem só em passos, mas escutem a música e se deixem envolver por ela, atentos às pausas e frases musicais. E onde os meninos saibam esperar pela vez das damas e seus adornos, que não são bengalas de apoio para seus exibicionismos e sim dançarinas que brilham, de igual para igual."
Milton Saldanha - Editor e jornalista responsável pelo Jornal Dance
www.jornaldance.com.br / jornaldance@uol.com.br
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