Li esse texto no blog da Escola Burlesca de São Paulo e resolvi compartilha-lo!!
Serve para muitas pessoas, vamos ler, pensar e refletir.....
As pessoas as vezes não sabem o que querem, o que as motiva, pra onde estão se deixando levar... simplesmente vão. Vão estudando aquilo que acham que é bacana ou que vai lhes render algum benefício na dança, seja na questão técnica quanto na profissional (o que inclui aí o $$). Mas será que elas param pra pensar no que fazem ou é apenas um impulso? Ou vão aceitando as coordenadas de seus professores sem avaliar por conta própria se é aquilo mesmo que querem fazer, ou se isso realmente vai lhes servir mais adiante? Ou é tudo uma questão puramente comercial?
Digo isso pq vejo uma sangria desatada de alunas de todos níveis e todas as modalidades em consumir TUDO o que aparece embaixo de seus narizinhos. Todos os workshops do mundo elas estão lá, com seus caderninhos gordos de anotações dos milhares de cursos que fizeram antes. Qualquer prazer as diverte e qualquer novidade as motiva. E daí? O que fazem com aquilo tudo depois? Será que voltam pra casa e estudam? Ou será que no fundo o que valeu ali foi o papelzinho que o professor deu no final da aula escrito CERTIFICADO, com uma assinatura e data?
Eu digo tudo isso por experiencia própria, não estou apontando o dedo pros outros sem olhar pro meu próprio rabo, tá? É justamente por reconhecer algumas dessas atitudes em mim que posso hoje, já mais amadurecida, falar disso pra vcs. Pq eu penei muito até encontrar o meu caminho e isso tudo não foi pq eu não sabia o que queria, mas pq eu sabia demais, tinha informação demais, queria demais, gostava de tudo o que via pela frente e achava que podia abraçar o mundo. Mas meus braços não são tão extensos assim e eu demorei pra entender isso.
Para explicar meu ponto de vista eu começo dizendo que sim, experimentar é preciso. Sem vivenciar na pele a dança vc não tem como se posicionar. Ver é uma coisa... sentir é outra muito diferente. E vc só terá certeza se gosta ou não quando botar seu corpo pra se mexer. Eu nunca me imaginei fazendo sapateado. Achava lindo nos outros, mas não pensava naquilo pra mim. Dancei, neném! Experimentei e hoje sou completamente apaixonada por Tap. Já a dança afro foi o caminho inverso. Eu sempre fui alucinada por dança afro, morria de vontade de fazer. E fiz... por anos. Mas mesmo numa longa tentativa, eu nunca consegui uma verdadeira identificação com aquela dança no meu corpo. Continuo babando quando vejo os outros dançando, mas não pratica-la, pois não me vejo subindo num palco pra dançar afro. Não hoje, ao menos.
De toda forma, aquele conhecimento obtido eu fiz bom uso em outras danças. Nem tudo que se aprende é perdido se não for realizado integralmente depois. Mas as vezes a gente precisa pesar os prós e contras antes de investir em algo, pra não perder tempo e $$. Se vc tá podendo, então arrasa, menina! E investe mesmo. No entanto, se a grana tá curta, a gente tem que priorizar as coisas, não é mesmo?
Outra tecla que vivo batendo e batendo é: pratique, sim, se possível, mais de uma dança. Uma ajuda a outra e vc não fica bitolada num universo único e quadradinho. Conhecer outras modalidades abre e muito seu campo de visão. Vc deixa de ser aquela bailarina especialista, que só sabe fazer uma única coisa da vida. Com isso, vc acaba achando inspiração nos movimentos de uma dança pra levar pra outra. Ok, se vc faz uma modalidade que não permite esse intercâmbio, mesmo assim, deixe que seu corpo vivencie outras formas, outros movimentos. Isso ajuda em outros pontos, como musicalidade, interpretação, expressão.
Agora, onde então eu vejo problemas quando alguém sai por aí consumindo desenfreadamente tudo e mais um pouco? Na qualidade. A grande maioria dos alunos de dança não para pra refletir sobre o que está consumindo. Não pesquisam sobre o professor que está ministrando o curso, não buscam informações com outras pessoas que já conhecem o trabalho dele pra saber se aquele investimento vai lhe render algo de bom. O mais comum é que a pessoa faça cursos, cursos, cursos, colecione certificados, e na maioria das vezes saia reclamando da aula... que foi fraca, que não se identificou com o estilo do profissional, que foi difícil demais, que o professor não passou um conteúdo teórico etc e tal. Mas no currículo tem aquela lista imeeeeeeeeeeeensa de aulas, né? Cursos pra todo lado.
Então, vamos ao ponto:
- Se vc quer praticar 1, 2 ou 10 modalidades de dança, isso não importa: se vc acha que dá conta de absorver todo o conteúdo e fazer bom uso dele, vá em frente. Lembre-se que pra fazer bom uso vc precisa praticar depois que sair do workshop, ou aquele aprendizado será perdido. Ninguém tem memória de elefante pra conseguir lembrar de tudo o que aprendeu num curso feito há 2 anos atrás, ainda mais se vc consome cursos desenfreadamente. O mesmo vale pros cursos regulares.
- workshops são bacanas pra te dar uma nova visão, ou seja, vc vai reforçar algo que já estuda ou descobrir alguma modalidade nova, certo? Então, faça um curso de acordo com seu nível de conhecimento. Não adianta estar num curso regular iniciante e tentar acompanhar workshops de avançado. Não adianta nunca ter feito uma única aula daquela dança e querer acompanhar o curso onde as alunas já tem mais conhecimento daquilo. Ahhhhh, mas vc já dança outra modalidade há anos? E daí? Cada dança tem sua própria linguagem. É claro que se seu corpo já se movimenta ele vai absorver melhor outras danças, mas sem a base daquela dança específia, vc não vai fazer milagres e conseguir acompanhar uma turma mais avançada. É perder tempo, dinheiro e ainda sair da aula se sentindo uma pata choca.
- workshops não substituem cursos regulares. Aulas semanais são necessárias. É seu alimento diário, o arroz e feijão. Workshop é aquela banana split que vc toma no fim de semana (e se estiver de dieta, uma vez por mês! hahahaha). Não dá pra viver de banana split, certo? Mas também não dá pra viver sem uma guloseima de vez em quando.
- E já que usei a comida como metáfora. Vc não entra em qualquer boteco de esquina pra comer uma coxinha, né? Se entra, eu lamento muito pela sua saúde. ^-^ Da mesma maneira, não dá pra fazer qualquer curso, pois mesmo que ele seja baratinho, é um investimento. É um dinheiro saindo do seu bolso que poderia ser melhor aproveitado numa outra situação. E a indigestão depois pode pesar na consciência!
- Seu acervo infinito de certificados não vai garantir que vc é um bom bailarino. Isso a gente só sabe mesmo quando põe em prática. Deborah Colker, Ana Botafogo, Carlinhos de Jesus e outros grandes nomes da nossa dança só estão onde estão pq demonstraram que têm talento, e não pelos escritos do currículo. Aliás, eu nem sei quem foram os professores deles, mas sei que, seja lá onde aprenderam, aprenderam bem. Podem ter tido um ou dois mestres na vida, ou ao contrário, terem feito aulas em 345 escolas diferentes. Isso não altera suas qualificações profissionais, pq a gente consegue enxergar neles a boa dança, independente no número de certificados que acumulem nas gavetas.
- Opa!!! Tá na moda, vou fazer: na época de Caminho das Indias eu tinha tantas alunas e tantas turmas de dança indiana que dava até gosto! hahahaha...A novela nem tinha acabado e sabe quem ficou nas aulas? As que já estavam antes da novela... no máximo 2 ou 3 que entraram depois, mas que realmente gostavam da dança e da cultura indiana. A grande massa foi fazer aulas por 2 motivos: pq a dancinha da novela era engraçadinha, e é legal saber uns passinhos pra usar na balada. Eu não recrimino essas pessoas. Não mesmo. Elas nunca disseram que entraram na aula pra fazer carreira artística, foi uma mera diversão que elas já sabiam que seria passageira.
O que me incomodou, e muito, é ver bailarinas de outras danças, PRINCIPALMENTE de dança do ventre, que fizeram meia duzia de aulas e saíram por aí fazendo shows de dança indiana e, ainda pior, dando aulas também. Absurdo. Com certeza elas reclamaram muito quando, na época da novela O Clone, um bando de gente sem noção fez três meses de aula e saiu por ai queimando o filme da dança do ventre, não é mesmo? Mas pimenta nos olhos dos outros é refresco. Pra quem estudou anos de dança indiana, dava um desgosto danado ver gente despreparada, fazendo e falando besteira, se dizendo profissional de algo que nem ao menos gostavam, apenas pra ganhar uns trocados a mais por conta do modismo. Lamentável.
Ok, então, o que fazer?
- Escolheu o que quer dançar? Sentiu na pele? Mergulhe! Se seu bolso só dá pra pagar as aulas de uma modalidade, ou se vc se identificou tanto com aquilo que não se imagina fazendo outra coisa, ok. Vá em frente. Mas vez por outra tente provar outros sabores.
- Se decidiu estudar várias modalidades, parabéns pela escolha. Seu enriquecimento vai ser grande, sim. Mas lembre-se de estudar além da sala de aula. Não custa pegar o tempo ocioso que vc está largada na frente da tv e troca-lo por treinos de suas danças. É bom lembrar que cada dança tem seu gestual específico, sua postura ideal, seu repertório de movimentos próprios e, se vc pratica várias danças, deve usa-los adequadamente. E sem treino, seu corpo vai demorar mais pra entender o que faz parte de cada dança.
- Não deixe que a paixão te domine cegamente. Vc ama flamenco, só de ouvir a música se arrepia, não perde uma apresentação e chora ao ver Cristina Royos em cena. Mas na sala de aula vc sente que não evolui, que seu corpo não responde aos sapateados, que sai geralmente frustrada pq não consegue acompanhar a turma. O que fazer? Desistir de tudo e determinar que a dança não é pra vc? Não, honey. A vezes aquela dança não é pra vc. E é por isso que experimentar outras danças é sempre bom. Mesmo com toda paixão do mundo o flamenco não tá entrando na sua cabeça? De repente vc faz uma aula de dança havaiana e se descobre a bambambam! Se não tentar, não vai descobrir.
- Mas também não deixe que a paixão se perca. Se aquela dança não está lhe satisfazendo mais, algo está errado. Seu tempo ali expirou. Ou então vc se focou tanto no aprendizado técnico, em ser a melhor das mortais dançantes, que esqueceu que sem paixão pelo que se faz a coisa não vai nunca rolar de maneira agradável. Perceber isso é fácil: se vc se empolga a cada nova coreografia, a cada música que descobre e que adoraria dança-la, se vc estuda em casa com satisfação e não por que a professora falou que tem que ser assim, então sua paixão ainda existe. Do contrário, é bom reavaliar suas escolhas e, se necessário, escolher outra dança. De repente nem precisa largar o curso, mas fazer outra coisa paralelamente. Encontrar novas paixões pode nos dar um novo redirecionamento ou mesmo um novo estímulo pra continuar com o que já praticávamos anteriormente.
- Respeite seus limites. Ouça seu corpo e perceba se ele está dando conta do que faz. Não adianta fazer uma dança que vc adoooooooooooora, mas que depois de cada aula sai morta de dores nas costas, no joelho... dó até o fio de cabelo. Ok, vc pode estar fazendo errado e aí é tudo uma questão de pedir uma orientação ao professor para corrigir os defeitinhos posturais. Ou a aula é puxada mesmo e vc sente cada musculo do seu corpinho trabalhando de verdade. Nesse caso, a dor dá e passa. Mas se aquela dor no joelho tá lá toda aula, sai com vc da sala e persiste por dias, pode ser que seu corpo não aguente o tranco mesmo. Passe num ortopedista. Ah, sim, eu tenho problemas na patela. Então, criança, tá fazendo o que no ballet e no flamenco? Nãoooooo... procure algo mais light, não é o caso de largar a dança. Mas cada corpo tem seu limite e se aquela determinada dança está estrapolando os seus, vai ficar fazendo o que na aula? Sofrendo? Gosta tanto assim de sofrer? Procure um clube sado-masoquista, pelo menos isso não vai te deixar sequelas mais graves. Não brinque tanto com sua saúde. Vc pode se arrepender mais adiante.
- Viu um workshop com um tema bárbaro? Peça todas as informações possíveis:
- Tempo de duração: vc realmente vai dar conta de um workshop de 8 horas ou vai desistir no meio da aula e se largar no canto da sala? Ou ao contrário: vc acha que em 2 horas de aula vai aprender algo útil? Depende do tema do curso, certo? Então...
- O conteúdo em detalhes: ok, workshop de dança indiana... mas o que exatamente será ensinado? Qual modalidade? Clássica, folclórica ou bollywood?
- O ministrante: o professor tem um currículo de 10 páginas, mas eu vi um vídeo dele e não curti o estilo. Ah, mas ele é famoso, é gringo. E daí? Se vc não considerar seu gosto pelo estilo, vai acabar entrando em barca furada. Sair da aula sentindo que aprendeu passos que nunca vai usar pq não funciona dentro do estilo que escolheu pra vc é jogar dinheiro fora. O contrário também vale: vc estuda há 10 anos e o professor estuda há 2. Hein? Vai investir nisso mesmo? Acha que ele sabe mais que vc? Ok, se é pela questão de conhecer um novo estilo, acho válido. Do contrário, acho que pode guardar seus tostões pra uma próxima oportunidade.
- Valor: putz, tá mega barato. Vou fazer! Aí vc paga 30 conto e sai da aula com a sensação de que não aprendeu nada. Ou então gasta 300 reais por 2 horas de aula com a super mega power dançarina famosa, mas com um conteúdo xexelento. Tá, mas pelo menos levou o certificado pra casa e pode falar que fez aula com a bambambam, né? Ops!
- Nível: como já disse antes, se o curso é iniciante e vc é avançado, vai valer a pena o investimento? E vice versa o estrago ainda é pior, né? Sair da aula frustrada pq não conseguiu acompanhar uma única sequência é desanimador.
- E o marketing, vai bem? Vou fazer o curso pq o cara é super conhecido. Deve ser um arraso. E? Como assim cara pálida? Vc nem foi atrás de conhecer o trabalho da pessoa pra saber se gosta do estilo dele? Não pediu informações com alguém que já fez o curso pra saber se o cara sabe ensinar direito? Vc deve ter mesmo uma plantação de $$ em casa, hein? Manda um pouquinho pra mim, please!
Enfim, esse post é uma singela homenagem às alunas que as vezes eu vejo se enfiando em cada roubada, que depois fico até com pena. E se vc foi dar uma conferida na sua gaveta com milhões de certificados e se deu conta que não lembra do conteúdo de nem um terço dos cursos, fica aqui pra vc também!
Conselho se fosse bom a gente vendia, já dizem por aí, mas as vezes não custa parar e refletir. Dê um conselho a si próprio. Reavalie suas prioridades. Se vc quer ser um profissional, vc obviamente vai querer ter o melhor conteúdo pra depois repassar aos seus alunos ou desenvolver em suas coreografias, certo? Pra que consumir porcarias que não vão te agregrar nada?
Agora, se vc tá afim de gastar dinheiro por pura diversão, vai fundo e abrace o mundo... mesmo que ele não comporte no tamanho dos seus braços... isso pouco importa, né?
Fonte: http://escolaburlesca.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário